A LUZ É CONTAGIANTE


O que é REAL em vocês? É um Ser que é de tudo de bom e positivo, alegre e abundante, cheio de humor e amor divertido, com talentos criativos, paciente e bondoso, compassivo e misericordioso. Permitam que os seus Eu(s) REAIS venham, permitam que as suas Luzes maravilhosas brilhem, pois, isso é a razão do por que vocês estâo aqui.




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Manuscrito encontrado numa garrafa




Posted: 16 Jan 2012 06:20 PM PST

A tempestade levantou-se há cinco meses e não mostra sinais de se abater. No dia em que André foi diagnosticado com câncer ele me disse que o mundo inteiro podia mudar num único dia; para mim foram necessários cinco meses. A tempestade atingiu-me há dois.

Não há quem não tenha visto na televisão as primeiras imagens das casas sendo magnificamente destelhadas pela tempestade no Rio Grande do Sul. Os prédios enchendo o Guaíba. Lembro-me de ter tremido do orgulho e de culpa de estar testemunhando aquilo, de estar vivo e imune a uma tremenda catástrofe que era para outros inescapável. Pelo menos oitenta mortos, feridos sem conta, um rastro inteiro de desabrigados.

Isso porém foi antes, quando havia imagens, quando havia eletricidade e quando havia televisão.

Quando havia Rio Grande do Sul.

Hoje em dia a tempestade é tudo que há. Ela é nossa única experiência. A internet foi a primeira baixa, os telefones a última. Uma das últimas imagens sãs das quais me recordo é a de uma granulada reportagem que vimos na televisão, um grisalho especialista norte-americano descendo no aeroporto de Brasília e dizendo que os Estados Unidos fariam o possível para ajudar o governo brasileiro a “conter” a tempestade.

Como se contém uma tempestade? Uma tempestade não se contém, e hoje todo mundo sabe disso – literalmente todo mundo, se como se diz a tormenta alastrou-se pelo planeta inteiro.

A tempestade é implacável, violenta, seletiva e – supõe-se – inteligente. Quando a vertiginosa parede de cinza de quilômetros de altura surgiu no horizonte do Monastério, há meros dois meses atrás, tirei minuciosas fotos da Serra do Mar sendo engolida morro a morro na luz do final de tarde. Minha minúscula Nikon, onde quer que esteja jazendo agora, deve estar revirando incessantemente na sua memória eletrônica as últimas imagens que capturei: o forro da casinha de madeira sendo sugado folha a folha, as horrendas bocas cinzas dos vórtices aparecendo entre as vigas destelhadas. Um pedaço inteiro da rodovia sendo despejado a cem metros da minha porta.

E era o começo. O aguaceiro prolongou-se por trinta e sete dias sem retroceder um palmo. Uma ventania prodigiosa derrubou espetacularmente árvores, postes e casas inteiras – catapultando indiscriminadamente carros, caminhões, pessoas e reses e deixando-os encrustando-os em muros, barrancos e cercas, como baixos-relevos.

A esta altura já havíamos deixado a casa grande e subido aos trancos e barrancos para a pedreira, abrindo caminho a pé, debaixo do peso de mochilas encharcadas, entre uma surrealíssima floresta de relâmpagos. A decisão eventualmente nos salvou, porque no trigésimo oitavo dia, quando a chuva finalmente cedeu, chegaram as trombas d’águas. Da pedreira no pé do Anhangava vimos as circunspectas colunas cinzentas aproximando-se devagar no horizonte, sondando e avaliando o terreno, como um terrível  exército invasor.
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