A LUZ É CONTAGIANTE


O que é REAL em vocês? É um Ser que é de tudo de bom e positivo, alegre e abundante, cheio de humor e amor divertido, com talentos criativos, paciente e bondoso, compassivo e misericordioso. Permitam que os seus Eu(s) REAIS venham, permitam que as suas Luzes maravilhosas brilhem, pois, isso é a razão do por que vocês estâo aqui.




terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O VERDADEIRO INIMIGO




Daniel Oudshoorn


Certa vez, quando comia com os fariseus e publi­ca­nos, um dos anciãos sentado no lugar de honra à direita do anfitrião começou a perguntar a Jesus sobre as frases atri­buí­das a ele.

– Rabi – disse o ancião, – você nos disse para amar o próximo e nos disse quem é o nosso próximo. Ouvi dizer que você também disse para amarmos os nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem, mas você não foi tão claro a respeito de quem são os nossos inimigos. Diga-me, rabi, quem é o meu inimigo, para que eu o ame? Quem é aquele que me persegue, para que eu ore por ele?

Em resposta à pergunta Jesus contou a seguinte história:

– Um certo homem, cuja esposa faleceu, foi deixado sozinho para criar uma única filha. A fim de criá-la e protegê-la, educá-la e eco­no­mi­zar dinheiro para o seu dote, esse homem tra­ba­lhava longas horas fazendo trabalho exaustivo para um mestre ingrato. Ele porém sempre saudava o seu mestre com respeito, sorria e assentia e ria das piadas dele. Levantava-se quando o mestre se levantava e só sentava quando ele o convidava a fazê-lo. Nunca reclamava quando era espancado, não inter­rom­pia e agradecia sempre ao mestre pelo salário e pela opor­tu­ni­dade de trabalhar para ele. Certas vezes, quando o mestre lhe batia no ombro ou lhe dava um cum­pri­mento de mão depois de um trabalho bem feito, ele expres­sava um deleite par­ti­cu­lar­mente grande. O trabalho, no entanto, era árduo, e o homem com frequên­cia chegava em casa cansado e abor­re­cido. Se sua filha não tinha preparado o jantar ele perdia a paciência com ela. Se suas roupas de trabalho não estavam bem levadas e dobradas no lugar certo na manhã seguinte, ele gritava com ela. Certas vezes, quando estava par­ti­cu­lar­mente cansado ou abor­re­cido, ou tinha sido espancado pelo mestre, ele batia na filha. Foi assim por um deter­mi­nado tempo até que o homem teve um acidente no trabalho. Ficou inca­pa­ci­tado de executar suas tarefas mas

esperava que, depois de anos de serviço, o mestre se sentisse inclinado a lhe dar uma outra função. Infe­liz­mente não foi assim, e o mestre o mandou embora. Sem poder achar emprego, o homem teve de recorrer à men­di­cân­cia. O pouco dinheiro que conseguia men­di­gando com a filha – ela agora o acom­pa­nhava nisso – não bastava para que sobre­vi­ves­sem. Com muitas lágrimas, o homem fez o que muitos outros fizeram antes e depois dele: vendeu a menina como escrava, e aquela foi a última vez que ele viu sua única filha.

Houve um grave silêncio à mesa quando Jesus terminou a história. Ele então perguntou:

– Digam-me: quem era o inimigo daquele homem?

Sem hesitar, o ancião que havia dado início à conversa respondeu:

– Cer­ta­mente o mestre rigoroso é o inimigo! Cer­ta­mente é a ele que o homem é convidado a amar!

– Ah, cego e insensato! – Jesus respondeu. – Não é de admirar que você esteja sentado a esta mesa no lugar em que está. O mestre rigoroso não é o inimigo daquele homem. Você não vê que o homem tratava sempre o mestre como amigo, que era sempre res­pei­toso na sua presença e mostrava sempre deleite na sua companhia? Não: o homem tratava o mestre como amigo e portanto seu amigo ele era, não importa como o tratava o mestre. O ver­da­deiro inimigo – aquele que o homem tratava como inimigo – era a filha. Era com ela que ele perdia a paciência, com ela que ele gritava; era nela que ele batia e foi ela que ele por fim vendeu como escrava, não impor­tando seus sen­ti­men­tos por ela. Aqueles a quem você trata mal são os inimigos que você é chamado a amar em palavras e atos, pois amor é mais fazer do que sentir. O mestre, no entanto, era aquele que perseguia o homem. Não digo que você deva obri­ga­to­ri­a­mente amar uma pessoa dessas – ele já não foi tratado como amigo até mesmo por quem explorava? – mas pode valer à pena orar por ela. Quem sabe meu Pai que está nos céus ouvirá as suas orações e fará dele um bom mestre em vez de um mestre cruel; se isso se mostrar muito difícil, meu Pai que está nos céus ouvirá as suas orações e o fará cair morto.
Aqueles a quem você trata mal são os inimigos que você é chamado a amar.

– O seu inimigo não é quem maltrata você, mas quem você trata mal. Portanto eu lhes digo: não tratem mal a ninguém. Quanto aos que os perseguem, deixe-os nas mãos de Deus. Roma está oprimindo vocês – Roma que vocês tratam como amiga – e vocês oprimem o povo – a quem vocês tratam como inimigos embora sejam carne da sua carne e sangue do seu sangue. Vocês não podem parar Roma, mas Roma será parada. Se vocês mesmos serão ou não parados naquela ocasião depende de se vocês cessarão ou não de fazer violência contra os que estão abaixo de vocês. Se vocês não apren­de­rem a amar ati­va­mente os seus inimigos, quando o juízo sobrevir a Roma aqueles que vocês trataram como inimigos podem decidir aceitar o título e levantar-se contra vocês. Eles cantarão canções de liberdade enquanto trans­for­mam arados em espadas; vocês serão ceifados como a sega, e nenhum de vocês será poupado.

Quando Jesus terminou de falar, muitos dos que estavam reunidos à mesa enten­de­ram que era hora de levar a sério a ideia de uma cons­pi­ra­ção para matá-lo.

Daniel Oudshoorn, em Gospel Fragments

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